ATA DA QUARTA SESSÃO ESPECIAL DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 19.08.1993.
Aos dezenove
dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e três reuniu-se, na
Sala de Sessões do Pa1ácio Aloísio Filho, em sua quarta Sessão Especial da
Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às dez horas
e vinte e sete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor
Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Especial destinada
a debater a instalação de depósito de lixo doméstico, industrial e hospitalar
no Distrito de Vila Seca - Caxias do Sul, suas consequências para o meio
ambiente e o estuário do Rio Guaíba, conforme Requerimento nº 223/93 (Processo nº 2034/93) de autoria
do Vereador João Motta. Compuseram a Mesa: Vereador João Motta, Proponente,
nos termos do Artigo 11 do Regimento Interno; Vereador Pedro Américo Leal,
Vice-Presidente da Comissão de Saúde e do Meio Ambiente; Senhora Giselda
Escostegui Castro, Coordenadora do Projeto Guaíba Vive, Senhor Paulo Marcos
Amaral Alves, Diretor da Divisão de Pesquisas e Representante do Departamento
Municipal de Água e Esgotos (DMAE); Senhor José Eliseu Stumpf, Presidente
da Comissão de Defesa Ambiental Vila Seca; Senhor Elmar Borgheti, Secretário
Municipal de Saúde de São Marcos; Geólogo Nelson Amoretti Lisboa, Engenheiro
Químico Ademir Fachinelli e o Médico Veterinário Dagoberto Almeida, Técnicos da
Comissão e o Vereador Adair Casarotto, Presidente da Câmara Municipal de São
Marcos. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, do
Senhor Valmor Rizzon, Presidente do Rotary Club de São Marcos, falando acerca
do objetivo dessa Sessão e ressaltou a. necessidade de preservar a qualidade de
vida da população, bem como, a dos rios, em especial, o Rio Guaíba. Após, o
Senhor Presidente concedeu a palavra aos convidados para que se pronunciassem a
respeito do assunto em tela. O Senhor José Eliseu Stumpf, Presidente da
Comissão de Defesa Ambiental de Vila Seca, discorreu sobre a implantação da
usina de reciclagem, informando acerca da comissão constituída para estudar
essa instalação em Vila Seca, em Caxias do Sul. O Senhor Elmar Borgheti,
Secretário Municipal de Saúde de São Marcos, teceu considerações acerca da forma
como foi iniciada essa questão, informando sobre a desapropriação de área para
a instalação da usina de reciclagem do lixo industrial, hospitalar e doméstico.
Disse, ainda, não ser contra a referida instalação, mas contestou o local
escolhido. Informou que a Empresa Geoclok, de origem Suíça e com escritório em
São Paulo, fora contratada para estudar essa instalação, ressaltando que
nenhuma entidade de Caxias do Sul tenha recebido cópia do projeto com esse fim.
Disse, também, que a Geoclok não possui registro no Conselho de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia do Estado. O Senhor Nelson Amoretti Lisboa, Geólogo,
disse ter emitido parecer sobre a localização dessa usina de tratamento de
lixo, comentando sua contraposição entre as áreas propostas para tal fim.
Justificou como sendo uma área de cabeceiras do Rio São Marcos, com abundantes
nascentes e a outra área como degradada pela natureza deixando as rochas
resistentes e impermeáveis, defendendo esse último local como o mais
apropriado. Finalizou dizendo não ser a área escolhida a mais adequada para a
instalação dessa usina. O Senhor Ademir Fachinelli, disse ser servidor do
Departamento Municipal de Água e Esgotos de Caxias do Sul, mas que se
manifestava apenas como Engenheiro Químico, visto ter sido proibido pelo
Diretor desse Departamento de opinar acerca do assunto. Discorreu sobre o
abastecimento de água naquele Município, alertando que a população a consome
sem tratamento. Teceu considerações sobre possível contaminação das águas,
questionando acerca de quem se responsabilizaria nesse caso, se instalada a
usina na parte mais alta do terreno ao invés de ser em área mais baixa. O
Senhor Dagoberto Almeida, Médico Veterinário, falou sobre sua preocupação com a
fauna daquele Município e também, sobre notícia publicada no Jornal Gazeta
Mercantil de São Paulo em que técnicos da Fundação Estadual de Proteção
Ambiental - FEPAM emitiram parecer contrário a criação dessa usina de
reciclagem em Caxias do Sul. Alertou para a crise ambiental mundial prevista
para um prazo de vinte anos, propugnando pelo cumprimento das leis existentes
e, cautela com metais pesados lançados nos rios. O Senhor Adair Casarotto,
Presidente da Câmara Municipal de São Marcos discorreu acerca das condições das
águas do Município de Caxias do Sul, falando da preocupação com possíveis
contaminações que essa usina de reciclagem possa trazer. Lembrou a mobilização
diante desse assunto das instituições ecológicas do Estado, propugnando por
apoio desta Câmara no sentido de preservar a natureza e a população
riograndense. O Senhor Elmar Borgheti - Secretário de Saúde de São Marcos,
reportou-se sobre os pronunciamentos já feitos, alertando para os prejuízos à
comunidade gaúcha com a instalação da usina de reciclagem em Vila Seca. Disse
que o lixo depositado nessa usina trará consequências negativas não só para
São Marcos, mas para todo o Estado. Solicitou maior estudo nessa implantação. O
Vereador Pedro Américo Leal, Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente,
referiu-se ao debate hoje ocorrido na Casa acerca da instalação do depósito de
lixo doméstico, industrial e hospitalar no Distrito de Vila Seca, dizendo ser
uma situação muito séria para nosso Estado.
Colocou-se à disposição dos integrantes que buscam preservar a vida, e, ainda,
disse que não há o que discutir, mas o que defender. O Vereador Lauro Hagemann
reportou-se acerca do debate da instalação da usina de reciclagem na Vila Seca,
em Caxias do Sul, dizendo que os interesses econômicos se sobrepõem aos de
sobrevivência e os direitos de propriedade estão acima dos direitos da vida.
Disse ser necessária uma ação vigorosa no sentido de proteger a população. A
Senhora Giselda Escostegui Castro, Coordenadora do Projeto Rio Guaíba,
enfatizou que não basta ter verbas para despoluir o Rio Guaíba, sem defender
as nascentes do rio, alertando para a previsão de futuras faltas de água no
Planeta. O Senhor Paulo Marcos Amaral Alves, Diretor da Divisão de Pesquisas do
Departamento Municipal de Água e Esgotos, questionou acerca da disposição dos
resíduos que são acumulados em determinados locais e que implicaria isso nas
bacias hidrográficas. O Senhor Presidente registrou a presença do Engenheiro
Hideraldo Caron, Diretor Geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana e
agradeceu a participação de todos, reforçando o compromisso já assumido com as
entidades caxienses. Às onze horas e quarenta e cinco minutos o Senhor
Presidente declarou encerrada a Sessão. Os trabalhos foram presididos pelo
Vereador João Motta e secretariado pelo Vereador Pedro Américo Leal, Secretário
“ad hoc”. Do que eu, Pedro Américo Leal, Secretário “ad hoc”, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR.
PRESIDENTE: Vamos dar início à Sessão Especial, registrando as presenças
dos Srs. Vereadores e dos órgãos que foram convidados a acompanhar esse
conjunto de depoimentos que ouviremos a partir de agora, e assim instalar,
instruir esse processo político que se desencadeia, e, de certa forma, está
indiretamente atingindo o Município de Porto Alegre. Tudo iniciou - apenas para
registrar e informar o Plenário - quando no dia 1° de agosto recebemos, aqui,
na Câmara Municipal de Porto Alegre, um fax da Comissão de Defesa Ambiental de
Vila Seca, remetido à Câmara, enfim, a mim no caso. Imediatamente isso foi
oficializado e informado o Sr. Presidente, Sr. Wilton Araújo e o Plenário, com
o seguinte teor: “A Comissão de Defesa Ambiental de Vila Seca aproveita a
oportunidade para Comunicar-lhe que foi surpreendido com uma possível
desapropriação de área na localidade de Ilhéus, Vila Seca, junto à cabeceira do
rio São Marcos, como todos sabemos é um afluente do rio Taquari, próximo ao rio
Marrecas. Causa estranheza à comunidade que as áreas em questão encontram-se
dentro das bacias de captação e manancial hídrico de Caxias do Sul, decretada
área de proteção pela Lei n° 2452/78 de Caxias do Sul. Informamos, também, que
os reflexos no decorrer dos próximos anos atingirão diretamente o estuário do
rio Guaíba. Sendo essa uma das grandes preocupações dos nossos governantes
nessa época, a fim de preservar uma melhor qualidade de vida da nossa gente.
Como membro público que é V.Exª e preocupado com os problemas ambientais, por
via indireta, poderão afetar a sua Cidade, aguardamos as mais urgentes
providências a respeito do assunto.
Respeitosamente pela Comissão de Defesa Ambiental
de Vila Seca.”
Então, esse é o objeto dessa Sessão Especial.
Na seqüência propusemos ao Plenário da Câmara
Municipal de Porto Alegre através do Requerimento, a realização de uma Sessão
Especial para que se ouvisse, através de técnicos e de representantes da
região, com mais detalhes e com uma fundamentação mais rigorosa, na presença
daqueles órgãos que, no Município de Porto Alegre, são encarregados e têm a
função pública de trabalhar a questão da preservação do rio Guaíba. Isso foi
feito, e aprovado, por unanimidade do plenário, essa Sessão marcada de comum
acordo com os representantes da região.
Estamos aguardando a presença de mais três órgãos
que foram convidados, seriam: FEPAM, AGAPAN e DMLU.
Demais Vereadores que estão presentes: Ver. Divo do
Canto, do PTB; Ver. Lauro Hagemann;
Verª Maria do Rosário.
Para complementar a relação das demais pessoas que
gostaríamos de registrar estão aqui presentes um conjunto de técnicos, que vão,
a partir de agora, nos dar as informações técnicas a respeito do assunto, que
seriam: o Geólogo Nelson Amoretti Lisboa, o Engenheiro Químico Ademir
Fachinelli e o Médico Veterinário Dagoberto Almeida. Registro também a presença
do Presidente do Rotary Club de São Marcos, Valmor Rizzon. Na seqüência, vamos
pegando mais dados, mais informações do Plenário, para que não haja nenhuma
omissão às representações de autoridades. Está presente entre nós, também, o
Secretário Municipal de Saúde de São Marcos, Elmar Borgheti, o qual convidamos
a fazer parte da Mesa. Como sugestão de encaminhamento do nosso encontro,
sugiro que o dividamos em dois momentos. A rigor, temos mais uma hora e meia,
acho que dá tranqüilidade para nós azeitarmos bem a nossa dinâmica, cumprir
esse teto. Ouviríamos, inicialmente, a palavra de dois representantes dos
moradores da região, pela comissão em Defesa Ambiental, para uma introdução
rápida e sintética sobre a questão, mais política, enfim. E depois abriríamos,
imediatamente para que os técnicos, que já fizeram diagnósticos e estudos sobre
a questão, fizessem a exposição. Tudo o que estamos dizendo, aqui neste
Plenário, está sendo registrado pela Taquigrafia da Câmara Municipal de Porto
Alegre. A Sessão também está sendo acompanhada pelo Setor de Comunicação Social
da Câmara. Alguns Vereadores, que estavam no início da nossa Sessão, vão ter
que fazer uma espécie de dupla militância, porque estão aqui ao lado, no outro
Plenário, local onde eu deveria estar também agora, onde está sendo realizada
uma CPI da FUNDATEC. Vários Vereadores que estão aqui, também são membros da
CPI.
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. José Eliseu Stumpf, Presidente da Comissão
de Defesa Ambiental Vila Seca.
O SR. JOSÉ
ELISEU STUMPF: Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar o Sr. Proponente
desta Sessão Especial, Ver. João Motta, Srs. Vereadores desta Casa e demais
autoridades aqui presentes. Sou Presidente da Comissão de Defesa Ambiental de
Vila Seca. Sou um simples morador e produtor hortifrutigranjeiro de lá. Logo
que soubemos da implantação da Usina de Reciclagem foi feita uma Comissão da
qual sou Presidente. Hoje, não mais se trata de uma defesa ambiental de Vila
Seca, mas sim uma defesa do Rio Grande do Sul. O problema é grande, não só vai
atingir Vila Seca e o Município de Caxias, como, também, atingirá a Capital do
Estado do Rio Grande do Sul. Não vou entrar em maiores detalhes. Passo a
palavra ao Sr. Elmar Borgheti. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. ELMAR
BORGHETI: Exmo Sr. Vice-Presidente da COSMAM, Exmo
Ver. João Motta; Exmos Representantes de entidades aqui presentes;
Exmos Representantes da Prefeitura de São Marcos. Gostaria de falar,
rapidamente, sobre a questão que envolve a escolha deste local, em Vila Seca,
distrito do Município de Caxias do Sul. Esse processo começou com o envio...
Porque existe um convênio entre a Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do
Sul e a Prefeitura Municipal, com a anuência da Universidade de Caxias do Sul,
a fim de que seja instalada uma usina de reciclagem de resíduos sólidos
industriais, hospitalares e domiciliares. Essa questão iniciou-se com um ofício
enviado a um proprietário rural, para desapropriação de uma área de terra, para
instalação dessa usina. Estou, em mãos, com um ofício da Prefeitura Municipal,
Of. do Gabinete nº 117/93: (Lê o Ofício.)
“Of.
Gab. n°/117/93.
Caxias do Sul, 14 de junho de 1993.
Prezado
Senhor:
Convidamos Vossa Senhoria para reunião que se
realizará, sexta-feira próxima, dia 18 de junho em curso, às 14 horas na Câmara
de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, à Rua Italo Victor Bersani, 1134 no
bairro Jardim América, a fim de tratar de assunto relacionado com decreto de
utilidade pública de área de terra de sua propriedade.
Sem outro motivo, agradecendo a atenção que for
dada a esta solicitação, valemo-nos da oportunidade para apresentar protestos
de consideração e apreço.
(a) Maria de Lurdes Pauletti
Chefe de Gabinete. ”
Este Ofício foi enviado ao Sr. Saturnino Alves de
Araújo. Não sei se os senhores prestaram bem atenção, essa correspondência foi
enviada à Prefeitura Municipal de Caixas do Sul, convidando um cidadão a
comparecer na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, para discutir
uma questão de venda ou desapropriação de área de uma terra. Isto é assinado
pela Chefe de Gabinete, Maria de Lurdes Pauletti, esposa do Reitor da
Universidade de Caxias do Sul. Esse cidadão recebeu essa correspondência no dia
15 de junho para tratar desse assunto no dia 18 de junho. Nós, desde o primeiro
momento, já contestamos a forma como foi colocada a posição dessas entidades,
porque isto nos parece um ato de violência. Nós colocamos isto dentro da Câmara
de Indústria e Comércio para o próprio presidente, a quem faltou bom senso na condução
desse processo. Nós não somos contra a instalação de uma Usina de Reciclagem de
Lixo. Nós sabemos da necessidade, para Caxias do Sul, estamos contestando o
local escolhido. Após o recebimento disso, nós fizemos uma solicitação ao
Diretor-Geral do SAMAI de Caxias do Sul, solicitando esclarecimentos, porque o
corpo técnico desta entidade não foi requisitado a dar nenhum parecer. Nós
estranhamos, porque num corpo técnico existem engenheiros químicos - como o Dr.
Ademir Fachinelli - e um corpo multidisciplinar. Essa correspondência foi
enviada no dia 24 de junho, com cópia para o Prefeito Municipal e, até hoje,
estamos aguardando. Enviamos também, à Câmara de Indústria e Comércio, a
solicitação do projeto sobre essa usina de reciclagem de lixo. Posteriormente,
recebemos reposta do Presidente da Câmara de Indústria e Comércio, da qual
lerei o trecho final: “De acordo com o que estabelece a cláusula 3ª desta
convênio, a Fundação Ambiental Sul” - que é uma fundação por empresas
participantes da Câmara de Indústria e Comércio - “contratou a empresa C.S.B.
Geocop para os estudos de prospecção de áreas tecnicamente viáveis para a
instalação da central de tratamento industriais, domiciliares e hospitalares do
Município. Os estudos técnicos acima mencionados estão à disposição de V.Sa,
para consulta, na sede da Fundação situada na estrada federal Brasil 116, n°
17.204.” até hoje nenhuma entidade de Caxias recebeu uma cópia deste projeto.
Estivemos com um técnico examinando este projeto e ficamos apenas três horas, porque
só fizemos a consulta nele. O projeto realmente tem uma bonita embalagem, mas
não tem conteúdo. Essa empresa Geocop é de origem suíça e tem escritório em São
Paulo. Aqui, temos uma certidão do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia do Rio Grande do Sul, para quem fizemos uma consulta e constatamos
que essa empresa trabalha no Estado desde 1991 e não tem registro no CREA.
Vamos ler a certidão: “Certificamos, para fins de direito, a pedido da Comissão
de Defesa Ambiental de Vila Seca, que, revendo nosso cadastro, constatamos que
a empresa C.S.D. Geocop - Geologia e Engenharia Ambiental Sol Ltda. Não possui
registro neste Conselho Regional. Nada mais tendo sido pedido, mandei lavrar a
presente certidão que vai por mim assinada. Porto Alegre, 20 de junho de 1993;
Gerente de Departamento de Registro, Zenir da Silva.”
Aqui temos uma declaração do gerente de operações
da GEOCLOCK num jornal de Caxias, folha do dia 03 de agosto de 1993. O
Diretor-Técnico desse projeto diz o seguinte: “estamos apenas na concepção, o
projeto ainda não nasceu.” Parece-nos uma incoerência do nosso Prefeito
Municipal ter mandado uma correspondência para trará de desapropriação de área,
se o técnico que é o responsável pelo projeto, diz que “estamos na concepção do
projeto, que ainda não nasceu.” Já o Presidente da GEOCLOCK afirma que tem que
dar explicações sobre o assunto é a própria GEOCLOCK. Continua ele dizendo: “se
a empresa está irregular com o CREA, ou não, é um detalhe idiota e
insignificante perto do que estamos tentando fazer.” Os senhores vejam,
parece-me, não sou técnico neste assunto, uma coisa muito grave. Temos, aqui,
do mesmo dia, o jornal “O Pioneiro” - Central de Resíduos: “Perini pede
avaliação Técnica. O Presidente da Ambiental Sul não concorda com a visita de
políticos ao local.” Para os senhores entenderem, o Presidente da Câmara de
Indústria e Comércio e o Presidente da Fundação Sul é o mesmo. O Presidente da
CIC é o Presidente da Ambiental Sul, assim como os outros componentes da
direção. São palavras do Presidente da Ambiental Sul, que é o Presidente da
Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul: “Se abrirmos mão da escolha de
Vila Seca para a implantação da central de tratamento de resíduos, perderemos a
orientação do projeto que leva em conta os critérios da própria FEPAM.” O
Presidente da CIC diz isso e o engenheiro responsável pelo projeto diz que não
existe projeto. Realmente, ele está certo: não existe projeto. Mais adiante o
Presidente da CIC diz se referindo a uma comissão de deputados da Comissão de
Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa que foram visitar o local nas
cabeceiras do Rio São Marcos. O Presidente da CIC diz: “Esses Deputados estão
se pronunciando de forma leviana e inoportuna.” Parece-me temerosa esta afirmação.
“Mais adiante, o Vice-Presidente da Ambiental Sul, Aurélio Barpe fica indignado
quando falam que o lugar escolhido fica dentro das áreas da bacia de captação.
Segundo Barpe, esse critério provocaria a indefinição do Projeto. “Essa parte
vou deixar para o engenheiro químico Ademir Fachineli depois se pronunciar.
“Essa empresa, GEOCLOCK, juntamente com a Câmara de Indústria e Comércio,
afirma que essa Firma, a GEOCLOCK, é uma empresa de primeiro mundo, com projeto
de primeiro mundo> com risco zero e com poluente zero.” Sabemos que isso não
existe. A Câmara de Indústria e Comércio afirma que o Projeto é de investimento
de um milhão, oitocentos e cinqüenta mil dólares. Temos aqui, do Jornal do
Brasil, um artigo sobre reciclagem de lixo, que é de Caju, com tecnologia
francesa, de primeiro mundo e está sendo fechada por problemas técnicos.
Após essa nossa luta de 60 dias em que estamos
querendo ver o projeto e não estamos conseguindo, o que vimos foi um arremedo
de projeto, recebemos um fax da Comissão de Defesa do consumidor, Meio Ambiente
e Minorias de Brasília enviando à Câmara de Indústria e Comércio que diz o
seguinte: “Brasília, 11 de agosto de 1993. A fundação Ambiental Sul de Caxias
do Sul. Prezados Senhores, na qualidade de Presidente da Comissão de Defesa do
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, dirijo-me a V. Ss. para solicitar o
encaminhamento a esse órgão técnico dos estudos de prospecção das áreas
técnicas viáveis para a instalação da central de tratamento de resíduos
industriais, domiciliares e hospitalares do Município Caxias do Sul. De acordo
com as informações que recebi, está prevista a instalação da central de
tratamento de resíduos industriais, domiciliares do Município de Caxias do Sul
em local que representará grandes riscos de poluição do Rio São Marcos por
localizar-se bastante próximo à sua nascente, além de afetar os Rios Taquari e
Guaíba, com prejuízos enormes para as comunidades que deles dependem. No
aguardo do encaminhamento do documento supra citado, apresento minhas cordiais
saudações. Assina Deputado Marco Penaforte.” Os Senhores vejam, até onde a
situação chega, que até a Comissão de Defesa do meio Ambiente Nacional tem que
solicitar estes estudos. Nós aqui temos um jornal, que é o Diário da Assembléia
Legislativa, com o pronunciamento do Presidente da Comissão de Saúde e Meio
Ambiente, Deputado Marco Peixoto, que diz o seguinte, depois de conhecer a
Região: “que se estará cometendo um crime ambiental colocando a Usina de Lixo
naquele local.” É que nós achamos, também, Senhores. O Deputado Marco Peixoto
conheceu o local e achou que a área para a Usina de Lixo em Caxias é
inadequada.
Eu não quero roubar mais tempo, pois quero deixá-lo
para os técnicos. Agradeço ao Ver. João Motta e aos Senhores a acolhida à nossa
Comissão. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (João Motta): Passamos a ouvir os técnicos da Comissão. Com a
palavra o Geólogo Nelson Amoretti Lisboa.
O SR. NELSON
AMORETTI LISBOA: Sou Mestre em Geociências na linha de estratigrafia e com
experiência profissional de trabalho em Hidrogeologia e Sensoriamento Remoto. A
pedido da Comissão de defesa ambiental da Vila Seca, eu emiti um Parecer sobra
a localização desta Usina de Tratamento de Lixo proposta pela GEOCLOCK, como o
Mário Alberto colocou para vocês.
Eu tenho plena consciência de que a questão da
localização de uma Usina de Lixo é ampla e envolve multidisciplinares e
interdisciplinares. Vou enfocar aspectos ligados a minha especialidade, que é a
geologia, mais especificamente a hidrogeologia, principalmente, assuntos
técnicos de geomorfologia, geologia e hidrogeologia. Eu vou procurar, dentro da
minha exposição, fugir da terminologia técnica para apresentar uma opinião,
para que a maioria das pessoas “pegar” o assunto.
Eu tenho plena consciência de que a
responsabilidade, a minha responsabilidade é grande aqui, porque eu estou
tratando de um assunto que envolve a nós todos aqui, e, principalmente, as
gerações futuras.
Em termos da região de Caixas do Sul, do ponto de
vista da geologia, nós temos duas regiões bastante distintas, chamados “campos
de cima da serra”, que é a região plana, mais ou menos plana, onde está situada
a vila seca, e onde foi proposta, preliminarmente, a localização da área; e uma
região chamada de “terras de campanha”, que é a região da cidade de Caxias em
direção a Galópolis, onde nós temos aquele relevo acidentado que todos
conhecem.
Então, no meu parecer, eu coloquei possibilidade da
contraposição entre essas duas áreas de possibilidade de localização da usina,
e procurei ver os prós e os contras, do ponto de vista dos recursos hídricos,
da hidrogeologia, não levando em conta outros parâmetros que, certamente,
envolvem a localização da usina.
Caracterizando, brevemente, a região dos campos de
cima da serra, onde é proposta a localização da usina, é uma área das
cabeceiras do Rio São Marcos, com abundantes nascentes, que as pessoas que
conhecem a área chamam de banhados. “Zonas de banhados”, e capões, que são
vertentes de água subterrânea, água que circula na rocha. Nossa região, existe
uma ampla interconexão entre os recursos de água superficial e subterrânea. Os
rios correm junto à superfície, e têm as nascentes deles naqueles banhados e
capões. Pode-se ver um rio brotando daquelas nascentes e capões. Então uma
interconexão ampla entre o recursos hídrico superficial e subterrâneo de
difícil isolamento. É muito difícil isolar esses dois sistemas. Eles estão
juntos. Qualquer acidente, qualquer vazamento dos produtos tóxicos colocados no
chamado lixão, na usina de tratamento de lixo, ele, imediatamente, pode
penetrar nessas nascentes desses banhados e circular dentro das fraturas das
rochas, que é uma zona de fraturamento de rocha, com fluxo turbulento, quase
semelhante ao que ocorrer em rios, e passar das fraturas para as águas, para as
nascentes e cursos de água maiores.
Então, a possibilidade de ter, vamos dizer,
poluição nas águas são bastante grandes.
Está a situação da área escolhida. Por outro lado,
a região de terras de campanha, que seria a região acidentada do Município de
Caxias, esse a natureza degradou as rochas naquele setor, desmanchou as partes
mais moles das rochas e mais fraturadas e deixou aqueles restos que são os
morros acidentados, que são maciças resistentes e impermeáveis, de alta
impermeabilidade.
Tenho um exemplo pessoal de perfuração de poços nas
chamadas terras de campanha, ou seja, nos topos de morro de poços para obtenção
de água subterrânea com mais de 150m perfurados naquele material maciço que,
área fazer a perfuração, era necessário colocar água no poço para a ferramenta
de perfuração perfurar, porque não se encontra nada de água, atestando a
impermeabilidade.
Então, a própria natureza selecionou essas áreas
mais impermeáveis com convicção não escolhendo outro local, porque envolve
outros fatores. Mas defendo que esta usina de tratamento de lixo escolha essa
região onde as possibilidades de infiltração de água na rocha são muito
menores. Além disso, a natureza nesse desmancho das partes moles da rocha,
deixa esses topos de morro maciços. Além disso ela desconcertou o sistema de
drenagem superficial, ou seja, a água superficial subterrânea, a drenagem
superficial, ou seja os rios eles estão encaixados em vales profundos
totalmente desconectados da parte de infiltração que é praticamente
insignificante naqueles topos de morro. Isso as várias perfurações de poços
efetuados pela CORSAN e pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento atestam
isso, é só procurar os perfis de poços, sendo que são áreas consideradas como
praticamente estéreis para existência de água infiltrada na rocha.
Então, não entrando em dados técnicos, em
nomenclaturas geológicas e caracteres técnicos mais afetos a profissionais, eu
procurei expor o assunto para as pessoas que estão aqui. E quanto aos detalhes
técnicos, se alguém estiver interessado em colocações mais técnicas, eu estou à
disposição, aqui para responder as perguntas a respeito das colocações que fiz
em relação aos problemas da localização da usina de tratamento de lixo. E quero
finalizar minha primeira manifestação dizendo que, do ponto de vista
hidrogeológico, eu, conscientemente, afirmo, e coloquei no meu parecer para a
Comissão Ambiental Vila Seca, que a área escolhida não é mais adequada para a
instalação da usina.
O SR.
PRESIDENTE: Passamos a palavra ao Sr. Ademir Fachinelli.
O SR. ADEMIR
FACHINELLI: Eu gostaria, primeiramente, de fazer um esclarecimento, eu sou
engenheiro químico do serviço autônomo municipal do DMAE de Caxias do Sul. Só
que eu estou me manifestando, não como engenheiro químico dessa entidade, por
inclusive ter sido proibido pelo atual diretor e até ameaçado, eu estou aqui
como engenheiro químico Ademir Fachinelli.
Eu gostaria de trazer uns dados para os Senhores a
respeito do abastecimento de água de Caxias do Sul. Em Caxias do Sul existem
três represas. A represa Balbo que trem uma vazão de 100 litros por segundos; a
represa Maestra, 250 litros e o Faxinal, em torno de 450 litros por segundo,
representando, hoje, 60% de toda área que abastece a população Caxiense. Em
1983, na inauguração do Faxinal a vazão era 150 litros por segundo, 10 anos
depois, 1993 a vazão triplicou, foi para 440 l/s. Então, fazendo um cálculo,
bastante rápido, por volta do ar 2003, a água do Faxinal já não mais será
suficiente para abastecer os 90% que está abastecendo da população caxiense.
Isso significa que Caxias deve procurar outros mananciais. E quais são esses
mananciais?
Temos estudos, de 89, feitos por companhia
contratadas pela SAMAE, que apontam a região da Vila Seca, e especialmente, os
rios Lajeado da Marrecas, São Marcos e futuramente Rio Lajeado Grande e Piaí,
como os rios que vão abastecer Caxias do Sul. Há várias alternativas: utilizar
somem te o Lajeado das Marrecas, que é um afluente do São marcos, e este rio
daria uma vazão regularizada em torno de 720 l/s. Já o Lajeado das Marrecas com
o São marcos, daria uma vazão regularizada em torno de 1600 l/s.
Considerando que o Faxinal, hoje, dá uma vazão de
100 l/s, 1600 l/s seria, teoricamente, um Faxinal e meio. O que daria, segundo
o nosso cálculo, água para mais 25 anos a população caxiense.
Todos esses rios são classificados como categoria
1. São rios extremamente puros. As pessoas beberem água “in natura”, sem,
praticamente, tratamento nenhum. Eu lembro também como químico do SAMAE, que
Vila Seca era abastecida, até uns 3 anos atrás, com água de um riacho que passa
dentro da Vila, sem tratamento nenhum, só simples filtração. Após, por
legislação, nós começamos a fazer a cloração de 0,1 miligrama por litro, quando
o recomendado é em torno de 0,5, 0,6 miligramas por litro. Isso significa que o
rio não tinha contaminação fecal, simplesmente existiam coliformes potais,
comprovando a excelente qualidade da água que existe naquela região. Vamos
tentar fazer, sobre a localização da central de resíduos.
Essa central resíduos, inicialmente, vai tratar por
volte de cento e vinte toneladas/ dia de todas as espécies: lixo hospitalar,
lixo industrial, altamente carregado por metais pesados - Caxias do Sul é pólo
metal-mecânico. Haverá lixo altamente contaminado. Lixo radioativo, que será
depositado nessa área.
Essa central terá um incinerador; fará aterro
sanitário de lixo industrial. Sabemos que os aterros sanitários não estão sob o
controle de técnicos; o domínio e científico do lixo, do aterro sanitário,
ainda, não estopa em poder de técnicos.
O chorume produzido no aterro sanitário, não existe
tecnologia, nem a nível mundial, para tratá-lo. Onde vai ser tratado o chorume?
Em uma estação de tratamento de afluentes e, ainda, com carga tóxica vai ser
solto nesses rios da região.
Lembremos de um fato que aconteceu, há quatro anos
atrás, quando ocorreu uma mortalidade de peixes na antiga Barragem do Faxinal,
até hoje não explicada, apesar do SAMAR ter contratado técnicos de várias
áreas. Imaginemos, hoje, esta
central localizada em ilhéus, vila Seca; caminhões passando, em torno de dez a
doze por dia, passando em cima da Barragem do Faxinal, por um período de tempo
de oito a dez minutos. Imaginemos ocorrer uma mortalidade de peixes por algum
motivo, o que vai acontecer? A imprensa ávida por notícias vai noticiar o quê?
Sem sombra de dúvida, caiu um produto químico dentro da Barragem do Faxinal.
Aí, já vai aparecer algum morador que diz ter visto um caminhão parado e
jogando alguma coisa dentro da Barragem do Faxinal. O que os engenheiros do
SAMAE vão fazer? Vão tentar fazer uma análise da água. Essa análise não poderá
ser feita em Caixas, porque o laboratório do SAMAE não está capacitado para
fazer análises químicas profundas. Então a água vai ser coletada, trazida para
Porto Alegre: DMAE, CORSAN, ou algum órgão para fazer essa análise. Nesse
intervalo de tempo, qual a posição do engenheiro responsável pela qualidade da
água do Faxinal? Sem sombra de dúvida, tudo aconselha que ele proíba o
abastecimento. De imediato, 90% da população caxiense vai ficar sem água. Algum
cidadão toma essa água, e aparece uma complicação, não provocada pela água, mas
alguma doença relacionada com um problema desse cidadão. E ele diz que foi a
água que ele bebeu do Faxinal que estava contaminada, nessa altura, por lixo
hospitalar, metais pesados. Qual vai ser o impacto perante a população? Quem
vai ser o responsável nessa altura pela localização da central de resíduos em
cima das nascentes? Vai ser o engenheiro químico do SAMAE, que desde o início
se manifestou contra? Vai ser o Diretor do SAME, que daqui a quatro anos vai
ser mais Diretor, porque é um cargo político? Vai ser a FEPAM, os técnicos da
FEPAM? Não sei se algum técnico está presente. Os técnicos da FEPAM, tenho
certeza absoluta, vão se manifestar radicalmente contra, quando conhecerem a
localização da central, porque é um absurdo localizar uma central de resíduos,
que vai estar numa costa de 890m acima do nível do mar, quando o Rio São Marcos
e o Rio Lajeado das Marrecas, estão numa cota média de 750m acima do nível do
mar, e o Faxinal está numa cota de 700m do nível do mar. Isso significa que
estamos colocando lixo na parte mais alta do terreno e não na parte mais baixa
como todo mundo recomenda. Então, em caso de acidente quem vai ser responsável?
O SAMAE que não é responsável e a FEPAM provavelmente vai dizer o mesmo, vai-se
manifestar contra, apesar de que a decisão pode ser política. Lembro também que
a escolha deste local já estava determinada desde janeiro de 92 e que a
Geoblock só foi em janeiro de 93. Isso significa que foi contratada apenas para
escolher ou melhor, não para escolher o local mas somente para adequar o local.
Este local é bom por isso, por isso e por isso. A firma não foi contratada para
fazer um estudo. O projeto apresentado não é o mesmo que apresentou o estudo. O
projeto apresentado não é o mesmo que apresentou o vice-presidente da comissão
sendo que existem furos, uma vez que a área foi praticamente invalida e o
proprietário não foi comunicado. Técnicos da FEPAM disseram que foram ao local
e solicitamos a informação de quais técnicos foram a o local mas até hoje não
obtivemos resposta.
Lembro aos Senhores que Caxias está situada 780
metros acima do nível do mar e possui um distrito industrial altamente
desenvolvido e um aqüífero altamente contaminado em metais pesados. Há poços
artesianos de 80 metros de profundidade apresentando teor de cromo de até 15
mg/litro. São seis poços artesianos no distrito industrial que apresentam
teores médios entre 2 e 25 mg/litro. Por que então não efetuaram a localização
em cima deste terreno altamente comprometido? Há outros interesses na
localização desta central? Todos sabemos que os recursos hídricos em água
não-poluída giram em torno de 0.01%. Lá estão rios não-poluídos nos quais
Caxias vai-se abastecer. É importante ter água em quantidade. Agora, é vital
tê-la com qualidade.
Era isso Sr. Presidente. Obrigado.
O SR.
PRESIDENTE: Agradecemos mais essa introdução. Passamos a palavra ao Médico
Veterinário Dr. Dagoberto Almeida.
O SR.
DAGOBERTO ALMEIDA: Sr. Presidente, Ver. João Motta, demais Vereadores aqui
presentes. O que nos traz aqui como técnico, pois eu sou médico veterinário, é
a preocupação com a faun daquele local. Sabemos que lá existem diversas
espécies ameaçadas de extinção. E, lá, se tenta preservar essas espécies, tais
como o bugio. Foi feita uma campanha ampla, a qual partiu aqui da Capital Porto
Alegre.
O que nos traz aqui é a nossa experiência como ecologista além de técnico. Fui Presidente de uma Associação (ASCAPAN) de Caxias do Sul, mas hoje não falo em nome dela. Vimos até esta Casa para lembrar aos Srs. Edis de que neste País são criadas grandes leis. Só que o grande problema que encontramos durante o tempo em que estamos militando em ecologia é o não cumprimento dessas leis.
Então, de que adianta o Poder Legislativo fazer ou criar leis para não serem cumpridas. Preocupam-me, também, as decisões políticas. A “Gazeta Mercantil” de São Paulo notícia que técnicos da FEPAM protestam contra a implantação de uma usina. Então, os técnicos da FEPAM deram parecer contrário à criação de uma usina, ou seja, ao aumento de uma usina. Numa decisão puramente política, ela será criada. A nossa preocupação é com as gerações futuras. Nós sabemos que a primeira grande crise ambiental mundial será a de água, que está prevista para um prazo um prazo de 20 anos. Então, vocês estão investindo no Projeto Pró-Guaíba. Nós não conseguimos entender como vocês vão salvar o Guaíba sem preservar suas nascentes. Nós, da nossa região, contribuímos em muito para as nascentes dos rios de vocês. Contribuímos através do rio Piaí, na formação do rio Caí e, através do São Marcos e o das Antas contribuímos para a formação do rio Taquari, do Jacuí e do Guaíba. Existem normas para serem cumpridas e que não estão sendo cumpridas. Nós vimos a esta Casa para denunciar estes fatos e tentar conseguir apoio para que seja cumprido o que determina da lei. A Lei do Código de Águas data de 1940 e, até hoje, está em pleno vigor, só que ninguém cumpre. A lei para implantação de centrais de resíduos determina que seja feita a divulgação dos locais escolhidos por uma equipe multidisciplinar. Isto não está ocorrendo. Nós queremos uma usina de reciclagem, mas queremos, também, que a lei seja cumprida.
Para vocês terem uma idéia a coleta e o transporte
deste resíduo deve cumprir determinadas regras. Existem resíduos que necessitam
de “batedores” precedendo o transporte, principalmente, por cima de uma bacia
de captação como a do Faxinal. Quem irá fiscalizar? A FEPAM. A FEPAM não
consegue sair de Porto Alegre. Esta é a nossa preocupação: quem irá fazer a
fiscalização? Quem serão os punidos? Diz um livro de Direito Ambiental
Brasileiro, obra mais completa que tem, “que a coleta e o transporte e o
destino final do lixo deverão processar-se em condições que não tragam
inconvenientes à saúde e ao bem-estar público, nos termos da regulamentação da
Lei Federal nº 2.312, de 3 de setembro de 1954”. O grande problema deste País é
o não cumprimento das leis. “Muitas vezes, diz aqui, a localização inapropriada,
além do não- cumprimento das regras técnicas, vai molestar os moradores
circunvizinhos ao aterro sanitário, que poderão reivindicar a reparação
necessária até sua interdição” - art. 555 do Código Civil Brasileiro. Para
evitarem localizações nocivas à lei, outros países, como a Suécia, criou uma
lei que determina que antes de ser dada a permissão para realizar a atividade
poluidora, deve ser garantida a completa investigação da matéria a ser
considerada. A nossa preocupação é como reparar os danos causados, não só à
redondeza, ao pessoal da comunidade de Vila Seca, mas os dados que nós
deveremos trazer a vocês, moradores de Porto Alegre, aos filhos de vocês. Nós
estaremos poluindo lá com metais pesados. Vocês salvar muito bem Guaíba. A
maior parte da poluição do arroio Dilúvio, acredito eu, que seja poluição
orgânica. Eu pergunto aos técnicos, ao Ademir, ao pessoal do DMAE, é mais fácil
salvar um rio poluído com material orgânico ou com metal pesado? Que tipo de
critérios? Como iremos fazer uma avaliação daquilo, se ninguém conhece o
projeto, ninguém conhece nada? Nós temos em Caxias mais de 300 metalúrgicas que
poluem e nem são cadastradas na CIC - Câmara de Indústria e Comércio, que não
farão parte desse “pool” de empresas que pretende fazer essa usina de
reciclagem. Esta é a nossa preocupação: de que adianta vir dinheiro do exterior
para salvarmos o Guaíba aqui? Esta á a preocupação dos cidadãos de bem deste
País. Se não salvarmos os mananciais e as nascentes deste rio, nunca salvaremos
o Guaíba como um todo.
O SR.
PRESIDENTE (João Motta): Gostaria de registrar a presença do Diretor do
Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Engenheiro Ideraldo
Caron.
Com a palavra o Ver. Adair Casarotto, Presidente da
Câmara Municipal de São Marcos.
O SR. ADAIR CASAROTTO: Inicialmente, gostaria de cumprimentar o Ver. João Carlos Motta, os demais Vereadores que compõem esta Casa, os representantes das entidades, enfim, todos o que foram anteriormente mencionados. Talvez os Senhores estejam se perguntando qual o motivo de o Município de São Marcos estar aqui representado e preocupado com a questão que, segundo o que foi falado até o momento, é de Caxias do Sul. Eu, na condição de representante legítimo da comunidade de São Marcos, como Presidente daquele Poder Legislativo, gostaria de esclarecer-lhes que esta questão tão séria e importante para Caxias do Sul é talvez mais séria e mais importante ainda para o Município de São Marcos e, por que não dizer, para toda aquela região, estendendo-se, conforme foi dito pelos técnicos, até Porto Alegre. Somos um Município de apenas 20.000 habitantes e, segundo os órgãos governamentais que fornecem e que abastecem a água potável para nosso Município temos um manancial de captação de água para mais cinco ou dez anos, segundo a CORSAN. Então, tudo isso que os senhores acabaram de ouvir nos diz muito respeito porque daqui a cinco, dez anos no máximo nós precisamos, São Marcos precisa, da água do rio São Marcos. Segundo uma pesquisa feita o nosso Município é o segundo Município em crescimento no Estado do Rio Grande do Sul e esse desenvolvimento gera uma demanda no consumo de água potável e, conseqüentemente, nós, como representantes da comunidade, temos a preocupação de abastecer a nossa comunidade com água limpa e livre da possível contaminação que essa usina de lixo, ali, instalada, viria a trazer.
Portanto, em nome da comunidade de São marcos, em
nome da Câmara, temos aí também o representante da Secretaria de Saúde que irá
representar o Sr. Prefeito e que também fará o uso da palavra, queremos deixar
registrado nesta Casa a nossa preocupação não só em apoio à comunidade de Vila
Seca, mas também em defesa dos nosso principais interesses que é o
abastecimento de água potável que é uma coisa tão difícil nos nosso dias. Em
São Marcos, na maioria dos seus rios, ainda se bebe água na nascente, no rio;
mas dada a sua pequena quantidade e dada a esses tipos de projetos que estão
sendo estudados e tentados a sua implantação, isso vai durar por muito pouco
tempo a não ser que saiamos daqui com o apoio dos Senhores, com o apoio da
Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com o apoio das autoridades e de quem
representa as entidades que possam nos ajudar, porque uma das coisas que me
chama a atenção com relação a esse assunto é que as instituições ecológicas de
todo Estado, principalmente da região, não estão mobilizadas diante de um
assunto tão grave. Precisamos do apoio porque amanhã ou depois, quando não
tivermos mais água, aí será tarde. Digo, para finalizar, a Câmara de Vereadores
de São Marcos precisa do apoio dos Vereadores de Porto Alegre também para que a
nossa água seja preservada. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Para encerrar esta primeira parte, passamos a palavra ao
Secretário de Saúde de São Marcos Sr. Elmar Borgheti.
O SR. ELMAR
BORGHETI: Sr. Presidente da Mesa, demais autoridades já mencionadas,
Senhoras e Senhores. Já ouvimos fartos argumentos técnicos e até políticos com
relação à implantação desta Central de Resíduos, suas conseqüências e o que
trará de prejuízo para nossa comunidade e a comunidade gaúcha como um todo.
Gostaria apenas de salientar o fato de que nas décadas de 70 e 80 em nosso País
se criou um conceito de progresso baseado quase exclusivamente no
desenvolvimento industrial. Caxias do Sul inseriu-se nesse contexto,
transformando-se num pólo de desenvolvimento industrial, talvez um dos grandes
pólos de desenvolvimento industrial do nosso País. Porém, hoje, os conceitos
mudaram e o mais claro conceito de progresso que temos hoje é o de que
progresso representa qualidade de vida. Dentro desse conceito, a água é um dos
elementos fundamentais. Sabemos também que o próprio conceito de coexistência
mudou. Hoje, os problemas que nos interessam também interessam aos nossos
vizinhos, porque os elementos da natureza e, principalmente, os elementos
estranhos à natureza não conhecem as divisas da geografia política. Esses
elementos estranhos à natureza que serão depositados em Vila Seca, dentro do
Município de Caxias do Sul, trarão conseqüências futuras para São Marcos, para
todas as cidade localizadas na faixa do rio das Antas e Taquari e chegarão,
fatalmente, à Capital do Estado. Por isso, meus amigos, o importante é estarmos
conscientes de que os problemas são globais e dessa forma devem ser encarados.
O Município de São Marcos, do qual represento o seu
Prefeito Municipal, compreende todo esse espectro e entende que é importante
todos nós nos conscientizarmos disso e estamos alertas para dentro das nossas
condições, dentro dos nosso recursos, dentro daquilo que a lei nos permite e
até dentro daquilo que a lei não nos permite, lutarmos para que essa central de
lixo seja estudada com clareza e seja implantada onde realmente ela não venha a
prejudicar toda uma população com riscos futuros de, quem sabe, não termos
recursos hídricos para sobreviver. Esta é a nossa posição. Queremos deixar
claro, aqui, a posição do Sr. Prefeito Municipal e ser contra a implantação
dessa Usina de Lixo e de ser a favor da Comissão Ambiental de Vila Seca. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (João Motta): Passamos a palavra ao Ver. Pedro Américo Leal,
representando nesta ocasião a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara
Municipal de Porto Alegre.
O SR. PEDRO
AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Ilustre Vereador João Motta e demais
componentes da Mesa, Senhores e Senhoras, eu represento a Comissão de Saúde e
Meio-Ambiente que é dirigida pelo ilustre Vereador Eliseu Santos, tendo como
componentes os Vereadores Henrique Fontana, Guilherme Barbosa do PT e Dilamar
Machado do PDT. Eu escutei com muita atenção os relatos dos técnicos aqui
presentes e confesso a todos que fiquei pasmado. Nós políticos, pensamos saber
tudo, mas pouco sabemos. No dia a dia, enquanto vocês trabalham, nós lemos,
ouvimos e debatemos, mesmo porque somos pagos para isso. Não fazemos favor
algum. Não tínhamos notícias do que estava ocorrendo, ou seja, onde colocar
este depósito de lixo. Estávamos voltados para outros assuntos. De repente
percebemos que estávamos sendo ameaçados e vimos que estávamos cada vez mais
dentro da era da tecnologia por pão e água. As coisas estão ficando ridículas.
Achamos o assunto tão simples. Dizia um homem público que tudo aquilo que não
pode ser sintetizado em uma folha de papel, não merece ser feito, porque sendo
complicado não vai dar certo. Se não puder sintetizar em uma folha de papel é
melhor não fazer, porque ninguém vai entender, então eu queria dizer com isso
que ouvimos duas coisas aqui que nos impressionaram. Tomamos nota de outras,
mananciais e as nascentes onde estão? Lá em cima. Se não me engano, a 800
acima, a 900 metros acima. É uma quota.
Nós estamos diante de uma coisa muito simples, são
as leis do modelado, a topografia. Dizia aquele cacique rude para o grande
Presidente americano: “Tudo o que acontecer com a terra acontecerá com os
filhos da terra”.
E é verdade, o que nós fizermos com a terra se
reflete em nós e nosso filhos.
Sr. Presidente, achamos que para transmitir aos
componentes da nossa comissão, mais sucinto será o nosso relato. Teremos que
impressioná-los da seguinte forma: são quotas, é aritmética pura, não há o que
discutir. Três é maior que dois. Não há quem prove que nós estamos às 10 horas
da noite. Olhamos para a janela e o sol está aí. Qual o orador que pode nos convencer
que estamos falando durante a parte da noite da quinta-feira? Porque agora é
dia. Então, são quotas, senhores. O que se jogar lá de 900 vai atingir a 700.
Não adianta. Os senhores são químicos, Médicos. Nós aqui temos várias
profissões. O ilustre Vereador Lauro Hagemann, esta voz maravilhosa de
comunicador, que tanto nos enleva, não poderá nos convencer, a ninguém, de que
os senhores não estão com a razão.
Vivemos nossa vida pública toda da seguinte
maneira: onde está a verdade? Aqui. Não dá para lutar contra ela. Só se formos
patifes. Aí, não podemos mais conversar.
Achamos, senhores, que é muito simples a tese. Não
há o que se discutir. Nós vamos ser atingidos diretamente aqui, nós seremos
atingidos.
E Vereador, V.Exª que teve a iniciativa, é o comandante
de uma causa de adoção muito fácil. De nossa parte, prometemos colocá-la em
todos os lugares que formos. Nos meios de comunicação social, porque, na
verdade, somos parte prejudicada, nossos sete filhos e treze netos.
Então, eis aqui um guerreiro à sua disposição.
(Revisto pelo orador.)
O SR. LAURO
HAGEMANN: Ver. João Motta, presidindo esta Sessão Especial; prezados
companheiros da Mesa, e no auditório. Não vou-me alongar, porque a minha
presença aqui decorre especificamente do grau do interesse que tenho com a
sobrevivência das nossas populações a que estou intimamente ligado, por
decorrência de ser representante popular desta Cidade.
Os relatos foram impressionantes. Só me pergunto
agora, e faço esta pergunta em voz alta: como é que vamos operacionalizar nossa
ação para impedir estas barbaridades. E não é só este caso, são muitos outros.
Hoje, infelizmente, os interesses econômicos se sobrepõem aos interesses até da
sobrevivência.
O direito de propriedade, hoje, está acima do
direito à vida. Isto é anti-natural, mas temos que nos opor a isto.
Felicito todos os que vieram aqui hoje. É pena que
mais Vereadores não estejam presentes, e até desculpo muitos que estão em
outras atividades, mas este relato deveria ser ouvido por toda a Câmara de
Porto Alegre, porque estamos hoje numa condição sui generis.
A Bacia Hidrográfica do Guaíba abrange, se não me
engano, 154 Municípios do Estado, começa lá no norte, e tudo que for depositado
lá vai cair aqui. Estamos começando a construir uma casa pelo telhado. É um ato
insano, porque não vamos acabar nunca com a poluição do Guaíba, enquanto houver
alguém que lá nos confins do Estado atire qualquer porcaria dentro da água que
venha a cair aqui. Estamos botando dinheiro fora e não adianta prometer para a
população que vai ter isto ou aquilo, daqui a tanto ou quanto tempo porque não
vai acontecer.
Então, é necessário uma ação vigorosa, é isto que
precisa ser dito à população: no lar de cada um dos cidadãos, aqui ou de lá, o
lar pode ser atingido por uma doença fatal. E hoje as coisas estão assim.
Me desculpem, tinha que dizer isto. Não tenho
perguntas a fazer, elas já foram respondidas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Gostaria de esclarecer o Plenário que a idéia de trazer as
entidades do Município de Porto Alegre é exatamente para tomarem conhecimento
do fato, e registrar também que a nossa idéia, pelo menos inicial aqui seria
recolher a partir de hoje todos os apanhados taquigráficos da Sessão que foram
registrados, escritos, mais xerox, documentos que foram mencionados durante o
depoimento, montar um processinho e encaminhar para as instâncias competentes
da Câmara Municipal para que aí tomem as providências cabíveis no caso. Então
era esse o objeto e a finalidade desse nosso encontro, além de tornar público,
na medida em que está sendo registrado e sairá daqui material para toda a
imprensa da Cidade de Porto Alegre.
Agora nós passamos a palavra a Srª Giselda Castro,
coordenadora do Projeto Guaíba Vive.
A SRA.
GISELDA CASTRO: Como coordenadora do Guaíba Vive, eu falo como ecologista
há quase três décadas, lutando justamente contra essa civilização maldita do
lucro planejado acima de qualquer outro interesse. Então eu só queria dizer
isso, que dentro do programa que hoje eu coordeno, Guaíba Vive, nós temos
absolutamente presentes esta verdade: não adianta gastar milhões para despoluir
o rio Guaíba aqui, sem defender as nascentes porque é ali que vai ser
garantido. E também felicito aos Senhores e desejo todo o sucesso, o que
pudermos ajudar... Porque a luta pela água, que nós ecologistas há mais de 20
anos já vínhamos dizendo que seria a luta do próximo século, recém agora
penetrou na consciência das pessoas. Mas é terrível, porque a água é o elemento
vital por excelência, sem ela não se vive. E com a industrialização, inclusive
da agricultura e a poluição da explosão demográfica, da incapacidade de tratar
os esgotos, a água justamente é o elemento biológico que está mais ameaçado de
faltar. Inclusive os especialistas da ONU já disseram que no próximo século as
guerras serão por causa da água.
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o representante do DMAE, Paulo Marques Amaral
Alves.
O SR. PAULO
MARQUES AMARAL ALVES: A minha intervenção será breve na medida em que nos
posicionamos, em um primeiro momento, como observadores. Eu teria alguns
questionamentos, fiquei impressionado com a manifestação dos companheiros, mas
essa questão tem arcabouço legal farto e suficiente para ser trilhado, e que,
em tese, eu não vi manifestação acerca do procedimento da FEPAM, em cima desse
empreendimento.
Existe todo um caminho a ser trilhado e eu não tive
esse esclarecimento, a medida em que todos os projetos de licenciamento
ambiental devem ser passados para a comunidade em geral.
Eu faria uma segunda pergunta: onde são dispostos,
atualmente, os resíduos, que vão ser acumulados em determinado local? Todos os
resíduos? São disseminados pela bacia?
Outro aspecto que observo é que Caxias do Sul fica
em um divisor de águas, tanto para o Taquari Anta, quanto para o rio Caí. Isso
é óbvio. Por outro lado, essa questão anterior, de onde são distribuídos os
resíduos, implica na bacia. Eu gostaria de saber como está sendo feito isso
atualmente.
O SR.
DAGOBERTO ALMEIDA: A parte legal eu vou responder da seguinte maneira, é
aquilo que eu falava no meu depoimento, o grande problema é o não cumprimento
das leis. Senão, vejamos o que diz a Lei n° 6.803, de 2 de julho de 1980, todos
queixam-se, era o Gen. Figueiredo, mas foi uma das grandes leis que teve neste
País, o art. 7° dela diz, ela dispõe sobre as diretrizes básicas para
zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e dá outras providências,
art. 7°: “ressalvada a competência da União, e observado o disposto nesta lei,
o Governo do Estado, ouvidos os Municípios interessados”, Porto Alegre é
interessada. Foi ouvida? Não foi. “Aprovará padrões de uso e ocupação do solo,
bem como zonas de reservas ambientais, nas quais por suas características
culturais, ecológicas, paisagísticas, ou pela necessidade de preservação de
mananciais - que é o caso de proteção de áreas especiais - ficará vedada a
localização de estabelecimento industriais.”
Então, o grande problema que vejo é o
não-cumprimento das leis existentes neste País. Até talvez por desconhecimento
da maioria das pessoas.
A FEPAM - infelizmente faço esta denúncia - não
cumpre a lei. Essa é a realidade. É um órgão puramente político.
A parte técnica deixarei para o Sr. Ademir.
O SR.
PRESIDENTE: Para informar aos Senhores: a Comissão Ambiental tem ciência da
tramitação formal e legal desse tipo de processo. Está incorporada essa
informação de que a FEPAM, mais dia ou menos dia terá que se manifestar a
respeito do presente processo.
Está com a palavra o Eng° Químico Ademir
Fachinelli.
O SR. ADEMIR
FACHINELLI: Falarei a respeito da destinação do lixo industrial de Caxias
do Sul, que é um pouco anárquica. As grandes indústrias controladas pela FEPAM
têm um destino próprio para o seu lixo: aterro sanitário. E as demais
indústrias, o grosso das indústrias, não têm. Então eles estão dispondo esse
lixo ao longo de rodovias, dentro da própria empresa, armazenando em tambores,
em bombonas.
O grosso do lixo está disposto anarquicamente.
Agora, o grande segredo é a minimização da produção
do lixo dentro das indústrias. O que era central está sugerindo é exatamente o
contrário: é não minimizar este lixo e levá-lo para um local que nada tem a ver
com o lixo industrial. Não existem indústrias em Ilhéus e Vila Seca.
O SR.
PRESIDENTE: Ao encerrar essa Sessão, gostaria de reforçar aquilo que está traduzindo
nas falas dos Vereadores Lauro Hagemann e Pedro Américo Leal.
Acho que independente de nossa filiação partidária,
há um compromisso da nossa Lei Orgânica, no âmbito do Município de Porto
Alegre: os trinta e três parlamentares serem comprometidos com a defesa do meio
ambiente.
Incorporamos, na Lei Orgânica de Porto Alegre, a
consciência que a Coordenadora do Projeto Guaíba Vive brindou-nos, devido a sua
trajetória, inteligência e lucidez, ao abordar essa questão. Hoje, a questão do
meio ambiente é colocada para o mundo.
Essa consciência, em cima desse princípio é que nós
estamos assumindo, junto com vocês, esse compromisso na defesa do meio
ambiente, em todo o planeta. O lugar onde vocês moram, amam, como ficou
explícito em todas as falações, faz parte desse contexto que estamos
integrados.
Registro o agradecimento a todos, especialmente às
entidades que representam o Município de Porto Alegre e reforço o compromisso
que assumimos, quando da visita da região, em Caxias. Gostaríamos que essa
Sessão fosse registrada formalmente. Agora, vamos dar o destino para ela, para
todos os canais competentes da Câmara e do Município, para que providências
sejam tomadas.
Esse era o compromisso assumindo. Portanto, é com
satisfação que eu fecho, dizendo que estamos conseguindo viabilizá-lo.
Estão levantados os trabalhos.
(Encerra-se a Sessão às 11h45min.)
* * * * *